• Como manejar a nutrição de uma pessoa com insuficiência hepática?

O fígado, um dos maiores órgãos do corpo humano, exerce função essencial na síntese e no metabolismo de diversas proteínas, carboidratos e gorduras. Desse modo, quadros de insuficiência hepática merecem toda atenção possível, o que inclui o correto manejo nutricional, conduzido de acordo com a gravidade e natureza do quadro.

Tal consideração leva em conta que pacientes hepáticos podem sofrem com graves comprometimentos nutricionais, seja pela redução na quantidade de alimentos ingeridos, seja pelos prejuízos a funções metabólicas desempenhadas pelo órgão.

 

A caracterização da insuficiência hepática

Em linhas gerais, a insuficiência hepática é caracterizada, sobretudo, pelo grave comprometimento da função do fígado por buma doença ou substância que lesione o órgão. Seu diagnóstico se dá pela avaliação clínica (a presença de icterícia é comum, por exemplo) e por exames laboratoriais que indiquem alterações em enzimas hepáticas e taxas de coagulopatias (INR > 1,5)1,2.

No caso de doença preexistente, a insuficiência hepática é considerada crônica, com episódios de agudização. Se não houver condição preexistente, a condição é denominada aguda.

Quando a insuficiência hepática compromete mais de 80% da capacidade funcional do fígado, pode ser considerada condição de falência hepática3. Nesses casos, as taxas de mortalidade são altas e superam os 80%, principalmente em casos de infecções virais não tratadas decorrentes do Vírus Herpes Simples, por exemplo1.

No mais, a insuficiência hepática está relacionada ao desenvolvimento da chamada encefalopatia hepática, geralmente associada a concentrações alteradas de certos aminoácidos no corpo3. Ela é uma síndrome neuropsiquiátrica de caráter reversível, caracterizada por mudanças no comportamento, na cognição, na função motora e no nível de consciência4.

O tratamento da insuficiência hepática envolve o fornecimento de medidas de suporte, controle da condição que causou o problema e, em alguns casos, o transplante de fígado.

Ao longo do acompanhamento, tanto doentes hepáticos crônicos quanto aqueles com quadros agudos devem ter seu estado nutricional avaliado com um método validado. De acordo com as diretrizes da ESPEN (European Society for Clinical Nutrition and Metabolism)5, ainda é preciso monitorar determinados padrões metabólicos, como a gliconeogênese.

 

A conduta nutricional adequada

As diretrizes da BRASPEN3 (Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral) reforçam o círculo vicioso da desnutrição provocada pela insuficiência hepática: o suprimento inadequado de energia e nutrientes é agravado pela doença, que por sua vez tem pior prognóstico devido à desnutrição.

Com isso, a via de escolha para a terapia nutricional deve ser sempre a oral. A escolha pela via enteral ou parenteral deve sempre considerar a condição clínica do paciente. Em quadros agudos em que o paciente esteja em estado crítico, a nutrição enteral ou parenteral pode ser iniciada imediatamente.

Em geral, a terapia nutricional deve ser introduzida sempre que houver perda de peso corporal (maior ou igual 5% em 3 meses ou maior ou igual 10% em 6 meses) ou quando a ingestão oral foi inferior a 60% das necessidades nutricionais3.

Nesses casos, como já destacado, a nutrição adicional pode ser oferecida via suplementação oral ou por meio de sonda nasoenteral. Recomenda-se fórmulas poliméricas, salvo contraindicação. A densidade calórica deve ser superior a 1,0 caloria por mL, contendo todos os aminoácidos essenciais e restrição do nível de sódio (≤40 mEq/dia)3.

No mais, pacientes em nutrição enteral que evoluem para a encefalopatia hepática, por exemplo, obtém benefícios com dietas enterais que considerem o aporte adequado de determinados aminoácidos de cadeia ramificada, visando corrigir o desequilíbrio plasmático3.

É claro que essas são apenas as recomendações básicas para lidar com o aspecto nutricional da insuficiência hepática, que varia de acordo com a doença que desencadeia o quadro. As diretrizes da ESPEN3, por exemplo, contam com 103 recomendações sobre o  manejo desse quadro e devem ser levadas em conta diante de cada circunstância e comprometimento hepático.

 

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Referências:

 

  1. LOPES, Daniella; SAMANT, Hrishikesh. Hepatic Failure. In: StatPearls. StatPearls Publishing NIH, 2022. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK538227/. Acesso em janeiro de 2023.
  2. THOLEY, Danielle. Insuficiência hepática aguda. 2021. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/abordagem-ao-paciente-com-doen%C3%A7a-hep%C3%A1tica/insufici%C3%AAncia-hep%C3%A1tica-aguda. Acesso em janeiro de 2023.
  3. BRASPEN; CBC; ABRAN. Terapia Nutricional nas Doenças Hepáticas Crônicas e Insuficiência Hepática. 2011. Disponível em: https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/terapia_nutricional_nas_doencas_hepaticas_cronicas_e_insuficiencia_hepatica.pdf. Acesso em janeiro de 2023.
  4. FERENCI, Peter. Hepatic encephalopathy. Gastroenterology report, v. 5, n. 2, p. 138-147, 2017. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5421503/. Acesso em janeiro de 2023.
  5. BISCHOFF, Stephan C. et al. ESPEN practical guideline: Clinical nutrition in liver disease. Clinical nutrition, v. 39, n. 12, p. 3533-3562, 2020. Disponível em: https://www.clinicalnutritionjournal.com/action/showPdf?pii=S0261-5614%2820%2930457-X. Acesso em Janeiro de 2023.

 

Publicado em 20 de Dezembro de 2023

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