• Por que o controle de qualidade dos reagentes imuno-hematológicos é importante nas transfusões sanguíneas?

A imuno-hematologia é uma especialidade dentro da imunologia que estuda os antígenos presentes nas hemácias, os anticorpos a eles correspondentes e seu significado clínico, sendo de grande relevância para os laboratórios clínicos e para a medicina transfusional1.

Da captação, seleção e qualificação do doador à transfusão, existe um longo caminho chamado ciclo do sangue. A captação de doadores, triagem clínica, coleta de sangue, processamento de sangue em hemocomponentes, análises sorológicas e imuno-hematologias no sangue do doador, armazenamento, distribuição desses produtos e, por fim, a transfusão são procedimentos técnicos envolvidos nesse ciclo2.

Uma área essencialmente importante no ciclo do sangue é a Imuno-hematologia, pois é ela que garante a qualidade e a segurança imunológica de uma transfusão. Os testes pré-transfusionais imuno-hematológicos são realizados para detectar possíveis reações e garantir a compatibilidade do doador-receptor3.

 

O que são testes imuno-hematológicos?

Durante a coleta da bolsa de sangue, são separadas amostras de sangue que serão destinadas aos testes imuno-hematológicos e sorológicos. Enquanto a bolsa de sangue é encaminhada para o processamento, as amostras de sangue são direcionadas ao laboratório para a realização dos testes imuno-hematológicos e sorológicos obrigatórios, sem os quais nenhuma bolsa poderá ser liberada para o uso4.

 

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Os testes imuno-hematológicos obrigatórios que devem ser feitos na amostra do doador de acordo com o Manual Técnico de Hemovigilância da Agência Nacional de Vigilância Sanitária são4:

 

  • Tipagem sanguínea ABO (direta e reversa);
  • Tipagem sanguínea RhD (pesquisa do D fraco, quando aplicável);
  • Pesquisa de anticorpos irregulares (PAI).

 

Durante a tipagem sanguínea, o fator Rh é investigado. Em caso de resultado negativo, a amostra de sangue deve seguir para investigação de Rh D fraco. Essa condição ocorre quando as hemácias possuem uma expressão muito fraca de antígenos D e, por isso, não são detectadas nas técnicas simples de tipagem sanguínea, mas ainda assim são Rh positivo1. Isso pode causar um falso diagnóstico de Rh, colocando a saúde do indivíduo em risco em caso de necessidade de transfusões sanguíneas no futuro.

É de extrema importância que haja total atenção e cuidados na realização desses testes pré-transfusionais para não ocorrerem reações transfusionais3.

As reações transfusionais são todo e qualquer problema indesejável que pode ocorrer durante ou depois do processo de transfusão sanguínea3. Elas podem ocorrer devido a diversos fatores, inclusive pela realização de testes imuno-hematológicos em desacordo com a legislação vigente ou em desacordo com o manual de instrução do fabricante do reagente/kit. Também podem ocorrer devido a erro na liberação de resultados imuno-hematológicos ou erro técnico na realização dos testes2.

 

Controle de qualidade dos reagentes imuno-hematológicos

Existe uma série de fatores que contribuem para a qualidade dos resultados dos testes imuno-hematológicos, como profissionais capacitados para atuação laboratorial, escolha dos equipamentos compatíveis aos reagentes, fiscalização dos procedimentos pré-transfusionais e um dos mais importantes, a seleção dos reagentes imunohematológicos3. Os principais reagentes do tipo são5:

 

  • Antissoros

Reagentes utilizados para identificar antígenos eritrocitários.

  • Lectinas

Reagentes utilizados para identificar antígenos eritrocitários.

  • Reagentes eritrocitários

Reagentes utilizados nas provas reversas da fenotipagem ABO e para detecção e identificação de anticorpos antieritrocitários irregulares.

  • Potencializadores

São substâncias adicionadas ao teste com objetivo de facilitar a interação entre o antígeno e o anticorpo e aproximar as hemácias favorecendo, dessa forma, a aglutinação e encurtando o tempo de reação.

 

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Os reagentes empregados nos testes imuno-hematológicos são produtos biológicos e suscetíveis a fatores que podem modificar a sua qualidade, dessa forma é importante que eles possuam um controle de qualidade6. Por exemplo: implantar programa de qualificação de fornecedores e reagentes e verificar seu desempenho continuamente por meio dos registros estabelecidos, além de obedecer às instruções do fabricante em relação aos procedimentos técnicos, armazenamento e inspeção visual5.

Outras formas de controle de qualidade interno de reagentes em Imuno-hematologia compreendem a análise do conteúdo informativo de bulas e rótulos, as análises técnicas dos reagentes imuno-hematológicos e o constante aperfeiçoamento de testes que analisam a qualidade dos reagentes e equipamentos utilizados nos laboratórios. A reavaliação dos reagentes imuno-hematológicos durante o uso contribui para garantia de qualidade do processo transfusional6.

 

 

 

 

 

Referências

  1. OLIVEIRA, Maria Beatriz Siqueira Campos de; RIBEIRO, Flávia Coelho; VIZZONI, Alexandre Gomes (orgs.). Conceitos básicos e aplicados em imuno-hematologia. Rio de Janeiro: EPSJV, 2013. Disponível em: https://www.epsjv.fiocruz.br/upload/Material/L226.pdf. Acesso em janeiro de 2023.
  2. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Marco Conceitual e Operacional de Hemovigilância: Guia para a Hemovigilância no Brasil. – 1. ed – Brasília: ANVISA, 2015. Disponível em: https://www.hemocentro.unicamp.br/arquivos/2018/09/Guia-Hemovigilancia-Marco-conceitual_Anvisa2015-1.pdf. Acesso em janeiro de 2023.
  3. FREIRE, Mara Régina Lucena Cabral; CUNHA, Marcela Carmo; ANDRADE, Simone Possas. Importância dos testes imuno-hematológicos em receptores de sangue e a ocorrência das reações transfusionais. Eletronic Journal of Pharmacy, v. 12, p. 56-59, 2015. Disponível em: https://revistas.ufg.br/REF/article/view/40839. Acesso em janeiro de 2023
  4. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Hemovigilância: manual técnico para investigação das reações transfusionais imediatas e tardias não infecciosas. Brasília: Anvisa, 2007. Disponível em: https://cvs.saude.sp.gov.br/zip/manual_tecnico_hemovigilancia_08112007.pdf. Acesso em janeiro de 2023.
  5. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Hospitalar e de Urgência. Imuno hematologia laboratorial / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Hospitalar e de Urgência. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/imuno_hematologia_laboratorial.pdf. Acesso em janeiro de 2023.
  6. NOVARETTI, Marcia CZ et al. Dez anos de experiência em controle de qualidade em imuno-hematologia. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, v. 31, p. 160-165, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbhh/a/LTb3fvLLLjJMxQBBzs6mrtD/?lang=pt&format=pdf. Acesso em janeiro de 2023.

 

 

Publicado em 15 de Março de 2023

 

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