• A importância da limpeza das sondas alimentares na nutrição enteral domiciliar

A Nutrição Enteral Domiciliar é uma terapia necessária para manutenção do estado nutricional e da condição clínica de pacientes ambulatoriais. Ela consiste na administração de fórmulas enterais no trato digestivo por meio de um tubo de alimentação, porém fora do ambiente hospitalar1.

Os tubos ou sondas de alimentação enteral podem ser usados para fornecer terapia nutricional de curto prazo, por exemplo, após uma cirurgia, ou de longo prazo em casos de doenças neurológicas degenerativas, ou pós acidente vascular cerebral1,2. No entanto, o tempo de nutrição enteral não pode ser inferior a 7 dias para pacientes desnutridos, ou inferior a 9 dias para pacientes bem nutridos2.

Pacientes desnutridos, com dificuldades de alimentação oral, com trato gastrointestinal funcional, com quadro clínico estabilizado e que possam ser tratados em casa, também são candidatos ao uso de uma sonda para nutrição enteral1,2.

A Nutrição Enteral Domiciliar é a terapia de infusão domiciliar mais comum. E, considerando o perfil de indicação, é particularmente frequente em pacientes idosos e frágeis, com morbidades, que necessitam de nutrição enteral a longo prazo devido à disfagia neurológica persistente1.

 

Portanto, a lavagem das sondas é essencial para prevenir a obstrução e a contaminação da mesma1.

 

Os riscos da nutrição enteral domiciliar

Entretanto, a elegibilidade desses pacientes idosos para receber nutrição enteral em domicílio depende de suas condições clínicas, bem como do apoio dos cuidadores, que têm de garantir a segurança e eficácia deste tipo de tratamento nutricional fora do hospital1.

Isso porque, a alimentação enteral, como fonte de nutrientes é fundamental na nutrição do paciente, seja idoso ou não. Mas também acaba fornecendo um ambiente ideal para o desenvolvimento de bactérias. Logo, a contaminação de um sistema de alimentação enteral pode ter sérias complicações para o paciente2.

Dessa forma, a educação do manejo da nutrição enteral deve ser fornecida ao paciente e aos cuidadores durante o preparo para alta hospitalar3. Especialmente ao considerar que, dietas industrializadas têm maior custo quando comparadas às dietas caseiras (ou artesanais). Por isso, a orientação na preparação de dietas artesanais previne intercorrências como desequilíbrio nutricional, entupimento da sonda, contaminação e infecção1.

Fatores que podem levar a uma contaminação na alimentação enteral

Existem várias maneiras pelas quais uma alimentação enteral pode ser contaminada, e isso pode acontecer no hospital ou em casa. Incluindo1,6:

 

Má higiene das mãos

Não lavar as mãos corretamente pode levar à contaminação da alimentação enteral, da sonda e do equipo de infusão1,6.

 

Má limpeza do equipo durante e após o uso

O equipo deve ser mantido limpo durante o uso e completamente limpo quando a administração da dieta enteral terminar1,6.

 

Manutenção deficiente do tubo

É necessária a lavagem regular do tubo com água seguindo os padrões de potabilidade segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ou seja, ser filtrada e segura microbiológicamente6. Isso reduz o acúmulo de resíduos de dieta no tubo (ou sonda), o que pode causar um bloqueio e se tornar uma fonte de contaminação1.


Além disso, é preciso programar a lavagem das sondas de acordo com a necessidade hídrica do paciente. A lavagem deve ser realizada após cada etapa de dieta ou medicação, utilizando entre 20 e 50 mL de água, ou a cada 6-8 horas em caso de dietas contínuas1.

 

Armazenamento inadequado de alimentos para uso em dietas enterais

Em caso de dietas artesanais, para minimizar o risco de contaminação, os alimentos devem ser armazenados e higienizados de forma adequada e nunca utilizados se estiverem vencidos. Além disso, caso a dieta artesanal não seja administrada imediatamente após o preparo, é preciso armazená-la no refrigerador (entre 4 ºC e 6 ºC) por no máximo 12 horas1.

 

Uso de equipos inadequados

Todos os equipos para alimentação enteral são projetados para esta finalidade específica. Equipos não projetados para esta finalidade podem não se conectar adequadamente a sondas de alimentação enteral, proporcionando uma oportunidade de contaminação e gerando insegurança ao paciente e ao processo de administração de nutrição enteral8.

 

Leia também sobre qual é o papel da nutrição enteral na doença inflamatória intestinal crônica aqui.

 

 

 

 

 

Referências:

  1. LAIS, Lúcia Leite; VALE, Sancha Helena de Lima (orgs.). Guia de nutrição enteral ambulatorial e domiciliar. – Natal: Edição do Autor, 2018. Disponível para download em: https://arquivos.info.ufrn.br/arquivos/2020114034a74d7702302d82d6e825ef1/2018_GUIA_DE_NUTRIO_ENTERAL_AMBULATORIAL_E_DOMICILIAR.pdf. Acesso em janeiro de 2023.
  2. CUPPARI, Lilian. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar: Nutrição clínica no adulto. UNIFESP: Manole. 2004
  3. GONÇALVES, Rodrigo Costa. Planejamento nutricional da alta hospitalar: breve revisão da literatura e proposta de instrumento de avaliação. BRASPEN JOURNAL. 2020. Disponível em: https://wdcom.s3.sa-east-1.amazonaws.com/hosting/braspen/journal/2020/journal/out-dez-2020/artigos/02-AE-Planejamento-nutricional.pdf. Acesso em janeiro de 2023.
  4. ARAÚJO, Izabelle Silva de; SANTOS, Helânia Virginia Dantas dos (orgs.). Guia multiprofissional de orientação para pacientes em uso de nutrição enteral domiciliar. Petrolina: HEWAB, 2017. Disponível em: https://www.gov.br/ebserh/pt-br/hospitais-universitarios/regiao-nordeste/hu-univasf/saude/GuiaNutrioEnteral2.pdf. Acesso em janeiro de 2023.
  5. COREN-SP. Orientação fundamentada Nº 091/2017. Assunto: Desobstrução de SNE. 2017. Disponível em: https://portal.coren-sp.gov.br/wp-content/uploads/2018/04/Orienta%C3%A7%C3%A3o-Fundamentada-091_2.pdf. Acesso em março de 2023.
  6. NHS. Community Infection Prevention and Control Policy for Care Home settings: Enteral tube feeding. 2020. Disponível em: https://www.infectionpreventioncontrol.co.uk/content/uploads/2020/10/CH-07-Enteral-tube-feeding-October-2020-Version-3.00.pdf. Acesso em janeiro de 2023.
  7. ANVISA. RDC nº 503, de 27 de maio de 2021. Dispõe sobre os requisitos mínimos exigidos para a Terapia de Nutrição Enteral. 2021. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2020/rdc0503_27_05_2021.pdf. Acesso em janeiro de 2023.
  8. BOULLATA, Joseph I. et al. ASPEN safe practices for enteral nutrition therapy. Journal of Parenteral and Enteral Nutrition, v. 41, n. 1, p. 15-103, 2017. Disponível em: https://aspenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/pdfdirect/10.1177/0148607116673053. Acesso em janeiro de 2023.

 

Publicado em 04 de Outubro de 2023

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