• O que é a realimentação ultraprecoce no pós-operatório?

A realimentação “ultraprecoce” no pós-operatório surgiu dentro do protocolo multimodal de Aceleração da Recuperação Total no pós-operatório (ACERTO)1.

O protocolo ACERTO foi criado em 2015, de maneira geral, para pacientes submetidos a operações de médio porte na unidade de Cirurgia Geral do Hospital Universitário Júlio Müller em Cuiabá, Mato Grosso. O protocolo consiste na aplicação de técnicas que tem como o objetivo1:

 

  • Diminuir a morbidade operatória;
  • Diminuir o tempo de internação hospitalar;
  • Acelerar a recuperação do paciente cirúrgico.

 

E dentro do protocolo ACERTO a aplicação de três condutas merecem destaque: abreviação do jejum pré-operatório, hidratação venosa perioperatória e realimentação precoce no pós-operatório1.

 

Jejum pós-operatório

Para procedimentos cirúrgicos que não envolvam o trato gastrointestinal, o tempo de jejum pós-operatório é entre 6h e 8h. No entanto, para cirurgias em que há manipulação de órgãos do trato gastrointestinal, o jejum pós-operatório pode ser superior a 24h. nesses casos, é preciso assegurar o retorno do peristaltismo no paciente antes do desjejum, bem como garantir que o paciente esteja hemodinamicamente estável.2

Em casos de anastomoses digestivas, essa recomendação também se aplica. No entanto, em operações como vídeo colecistectomia, herniorrafias e cirurgias ano-orificiais, recomenda-se o início imediato de dieta e hidratação oral, sem uso de hidratação por via endovenosa3.

E de acordo com a Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo, a alimentação precoce por sonda, dentro de 24 h, deve ser iniciada em pacientes nos quais a nutrição oral precoce não pode ser iniciada e nos quais a ingestão oral será inadequada por mais de 7 dias. Alguns grupos de risco especiais para essa condição são4:

 

  • Pacientes submetidos a grandes cirurgias oncológicas de cabeça e pescoço ou gastrointestinal;
  • Pacientes com trauma grave, incluindo lesão cerebral;
  • Pacientes com desnutrição evidente no momento da cirurgia.

 

No entanto, na prática clínica, essas recomendações não são seguidas. Por isso, o tempo de jejum pode ser reduzido ou aumentado em excesso, levando a um maior tempo de internação e complicações pós-cirúrgicas, como fome, estresse e sede5.

 

Realimentação Ultraprecoce

Dentro do protocolo ACERTO, para que ocorra a realimentação “ultraprecoce” é necessário que a primeira ingestão oral ocorra ainda na unidade de recuperação pós-anestésica, com oferta de, pelo menos, 400ml de líquidos claros acrescidos de malto dextrina 12,5%, enquanto o paciente está bem acordado e supervisionados pela equipe de enfermagem e anestesia1.

Benefícios da realimentação ultraprecoce

Na prática clínica, a aceitação da realimentação ultraprecoce tem sido excelente em pacientes submetidos a operações de médio porte, e estudos que demonstram esta aplicabilidade, assim como seus potenciais benefícios do ponto de vista clínico e metabólico, estão em andamento. Até o momento foram observados os seguintes benefícios da realimentação ultra precoce:

 

• Potenciais ganhos metabólicos na força muscular e resistência periférica a insulina;

• Diminuição no volume de cristaloides infundidos no pós-operatório;

• Alta precoce sem incremento no risco de broncoaspiração, infecções ou vômitos.

 

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Referências:

  1. FRANCO, Anna Carolina et al. Uso da realimentação pós-operatória ultra precoce e seu impacto na redução de fluidos endovenosos. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, v. 47, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rcbc/a/WhSrrG3BZ5L4JtxXvZ3tLqM/?lang=pt. Acesso em janeiro de 2023.
  2. DE-AGUILAR-NASCIMENTO, José Eduardo et al. Diretriz ACERTO de intervenções nutricionais no perioperatório em cirurgia geral eletiva. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, v. 44, p. 633-648, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rcbc/a/QrQS3Xxq5ztxp5RtCwr3JNz/?lang=pt. Acesso em janeiro de 2023.
  3. TOFANI, Vinicius et al. Jejum pós-operatório prolongado: um problema negligenciado. REME-Revista Mineira de Enfermagem, v. 26, p. 1-9, 2022. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/reme/article/view/38657/30046. Acesso em janeiro de 2023.
  4. WEIMANN, Arved et al. ESPEN guideline: clinical nutrition in surgery. Clinical nutrition, v. 36, n. 3, p. 623-650, 2017. Disponível em: https://www.clinicalnutritionjournal.com/article/S0261-5614(17)30063-8/pdf. Acesso em janeiro de 2023.
  5. ARARIPE, Tamara Soares de Oliveira et al. Impacto do estado nutricional e do tempo de jejum nas complicações gastrointestinais e no tempo de hospitalização em pacientes cirúrgicos. HU Revista, v. 45, n. 1, p. 22-30, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/hurevista/article/view/25664/18900. Acesso em janeiro de 2023.

 

 

Publicado em 02 de setembro de 2023

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