• Por que e como monitorar o paciente durante reposição volêmica?

Os fluidos intravenosos são essenciais para manter a saúde dos pacientes durante e após cirurgias de grande porte. Além disso, eles também são administrados a quase todos os pacientes admitidos por acidentes e emergência após trauma agudo ou queimaduras, na maioria dos pacientes tratados em unidades de terapia intensiva (UTIs) e crianças internadas no hospital com gastroenterite grave e febre1.

Os fluidos intravenosos contribuem para o restabelecimento da saúde dos pacientes, auxiliando na recuperação pós-cirúrgica e no tratamento de diversas doenças. Eles são fundamentais para garantir a hidratação, a nutrição e o transporte de oxigênio nos tecidos corporais2,3,4.

Além disso, eles são amplamente utilizados como fluidos de ressuscitação de primeira linha em pacientes com sangramento antes da transfusão de sangue estar disponível, para substituir a perda excessiva de fluidos corporais, para hidratação em pacientes incapazes de beber e como veículo para a administração de medicamentos1. Em resumo, os fluidos intravenosos são indispensáveis para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes.

Para reforçar essa importância, durante a pandemia de cólera no início do século foram observados efeitos benéficos do uso de soluções salinas alcalinizadas em pacientes desidratados e em choque. Essa constatação levou à administração dessas soluções a humanos com o objetivo de prevenir e tratar quadros de desidratação e choque1.

 

Reposição Volêmica

A reposição volêmica é um procedimento médico que consiste na introdução de líquidos (normalmente soluções hidratantes) por via intravenosa. É realizada com a finalidade de repor os fluidos e os sais perdidos, prevenir ou tratar desidratação, corrigir acidose metabólica e/ou alcalose respiratória e fornecer nutrientes5.

Estimar a hipovolemia (baixa do volume sanguíneo) ou avaliar a resposta à ressuscitação volêmica é complexo e não há um único parâmetro clínico ou bioquímico que reflita a complexidade da circulação, particularmente sob condições patológicas que mudam rapidamente1.

É necessária uma avaliação cuidadosa da história do problema apresentado, uma compreensão da trajetória da doença e uma avaliação clínica que integre tendências nos níveis de marcadores fisiológicos e bioquímicos1.

O que pode ser administrado para reposição volêmica?

Grande variedade de fluidos pode ser administrada para reposição volêmica. Os fluidos empregados atualmente compreendem as soluções cristaloides, o plasma, a albumina ou as soluções de coloides sintéticos como as gelatinas, a dextrana e mais recentemente o hidroxietil amido. Normalmente a escolha é realizada frente a concentração de sódio de cada solução ou a pressão oncótica que cada fluido possui5.

Durante a ressuscitação volêmica, deve-se manter a função microvascular e restaurar a capacidade de carrear O2. O que define um bom expansor plasmático é a capacidade de manutenção prolongada do volume, manutenção da pressão arterial, não interferir no sistema de coagulação, ser efetivo em baixas concentrações e manter a pressão de perfusão tissular. O alvo da expansão plasmática atualmente é a função microvascular, já que esta é determinante da perfusão tecidual6.

Essencialmente, a infusão é um meio eficaz de repor os elementos essenciais para a manutenção da vida. Além disso, profissionais qualificados, como enfermeiros, possuem papel essencial em assegurar a segurança e a eficácia da terapia.7

 

Importância do monitoramento cauteloso

Há efeitos potencialmente prejudiciais da reposição de volume de forma precoce e agressiva, como8,9,10:

 

  • Diluição e hipotermia deteriorando a função de coagulação;
  • Sobrecarga de volume desencadeando lesão pulmonar e síndrome compartimental abdominal (SCA);
  • Aumento da pressão sanguínea e hidrostática, que pode interferir na cicatrização de feridas e perda de sangue adicional.

 

Dessa forma, é importante que a infusão seja monitorada e realizada com cautela, uma vez que a infusão excessivamente rápida de qualquer tipo de líquido pode precipitar edema pulmonar, síndrome de desconforto respiratório agudo ou até mesmo uma síndrome compartimental (como, por exemplo, síndrome compartimental abdominal, síndrome compartimental de membros)8,10.

 

Referências:

  1. MYBURGH, J. A. Fluid resuscitation in acute medicine: what is the current situation?. Journal of internal medicine, v. 277, n. 1, p. 58-68, 2015. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/joim.12326. Acesso em Janeiro de 2023.
  2. MYBURGH, John A.; MYTHEN, Michael G. Resuscitation fluids. New England Journal of Medicine, v. 369, n. 13, p. 1243-1251, 2013. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/nejmra1208627. Acesso em Janeiro de 2023.
  3. VAN REGENMORTEL, N. et al. Effect of isotonic versus hypotonic maintenance fluid therapy on urine output, fluid balance, and electrolyte homeostasis: a crossover study in fasting adult volunteers. BJA: British Journal of Anaesthesia, v. 118, n. 6, p. 892-900, 2017. Disponível em: https://academic.oup.com/bja/article/118/6/892/3829425. Acesso em Janeiro de 2023.
  4. LOBO, Suzana M. et al. Restrictive strategy of intraoperative fluid maintenance during optimization of oxygen delivery decreases major complications after high-risk surgery. Critical care, v. 15, n. 5, p. 1-11, 2011. Disponível em: https://ccforum.biomedcentral.com/articles/10.1186/cc10466. Acesso em Janeiro de 2023.
  5. AULER JR, Jose Otavio Costa; FANTONI, Denise Tabacchi. Reposição volêmica nos estados de choque hemorrágico e séptico. Brazilian Journal of Anesthesiology, v. 49, n. 2, p. 126-138, 1999. Disponível em: https://www.bjan-sba.org/article/5e498c1b0aec5119028b494c/pdf/rba-49-2-126.pdf. Acesso em Janeiro de 2023.
  6. LORENTZ, Michelle Nacur. Reposição volêmica perioperatória. Rev Med Minas Gerais, v. 20, n. 4 Supl 1, p. S47-S56, 2010. Disponível em: http://rmmg.org/artigo/detalhes/1025. Acesso em Janeiro de 2023.
  7. GUEST, Mags. Understanding the principles and aims of intravenous fluid therapy. Nurs Stand, v. 35, n. 2, p. 75-82, 2020.
  8. MAEGELE, M. et al. Volume replacement during trauma resuscitation: a brief synopsis of current guidelines and recommendations. European Journal of Trauma and Emergency Surgery, v. 43, n. 4, p. 439-443, 2017.
  9. CHATRATH, Veena; KHETARPAL, Ranjana; AHUJA, Jogesh. Fluid management in patients with trauma: Restrictive versus liberal approach. Journal of anaesthesiology, clinical pharmacology, v. 31, n. 3, p. 308, 2015. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4541175/. Acesso em Janeiro de 2023.
  10. HWABEJIRE, John O. et al. Abdominal compartment syndrome in traumatic hemorrhagic shock: is there a fluid resuscitation inflection point associated with increased risk?. The American Journal of Surgery, v. 211, n. 4, p. 733-738, 2016.

 

 

Publicado em 09 de Setembro de 2023